segunda-feira, 8 de agosto de 2011

0 Entrevista com o Rev. Augustus Nicodemos


Já faz algum tempo que tivemos a oportunidade de trocar algumas ideias com o Rev. Augustus Nicodemus, sempre que isso acontece saímos edificados e encorajados com o conhecimento e a simplicidade do chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Segue a íntegra da conversa:

[TC] O Senhor já tem algumas décadas de ministério, nestes anos todos, qual a maior batalha que o senhor já enfrentou e como a superou?
[Augustus] A maior de todas as batalhas é aquela para manter a vida devocional em dia. Refiro-me a manter uma vida disciplinada de oração, meditação, leitura da Palavra de Deus. Sem isto, as atividades ministeriais se tornam secas, mecânicas e quase que imperceptivelmente perdemos aquele poder espiritual necessário para pregar, escrever, orientar, aconselhar, decidir. Não digo que já venci esta batalha – teve períodos em que me vi seco e árido – mas percebo com alegria que basta recomeçar a dar tempo para os exercícios espirituais que o coração renasce como o tronco seco em terra árida, ao “cheiro das águas” (Jó 14:8-9).

[TC] Em 2009 setores da imprensa mundial como a Revista “Times” e o jornal “London On-line” falaram sobre o crescimento e a influência do que eles chamaram de “Novo Calvinismo”. Aqui no Brasil as doutrinas da graça também têm feito progresso entre os evangélicos, a prova disso são os novos blogs reformados/calvinistas que surgem todos os meses. Como o senhor enxerga todo este movimento tanto na esfera internacional quanto na igreja brasileira?
[Augustus] Fiquei agradavelmente surpreendido quando li estas notícias. Acostumado a ser minoria desprezada no Brasil, não enxerguei ao meu redor o crescimento enorme do interesse dos evangélicos no Brasil, e pelo visto, ao redor do mundo, nas antigas doutrinas da graça e da relevância que elas têm tido para nossa geração. Existem pontos na doutrina calvinista, que são partilhados pelos protestantes históricos de todas as persuasões, que são da maior relevância para os momentos em que vivemos, como o conceito de que existem verdades universais e que as mesmas foram reveladas por Deus em sua infalível palavra, a Bíblia. Penso também no conceito calvinista de que Cristo é Senhor de todas as áreas da vida humana, o que gera a idéia de uma cosmovisão cristã, uma maneira abrangente de enxergar a realidade a partir do referencial das Escrituras, o que dá coesão e consistência aos esforços dos protestantes de influenciar em todas as áreas da vida, especialmente nos Estados Unidos, onde o movimento neo-calvinista alcançou uma importância não desprezível. O pensamento oriundo das idéias de João Calvino se baseia no conceito da soberania de Deus, Deus este que é bom, justo, misericordioso, santo e profundamente insondável, o Deus que satisfaz os anseios na nossa mente e coração, ao contrário de outros deuses mutáveis, anunciados em nosso país, que são desconhecedores do futuro e impotentes para atender as necessidades humanas e que nada mais fazem do que chorar diante das tragédias.

[TC] Relevância e ortodoxia parecem ser características difíceis de serem encontradas em um mesmo ministério. O mais comum são os ministérios que se apegam a ortodoxia, mas que não possuem criatividade e por isso mesmo acabam sendo irrelevantes, por outro lado temos ministérios que abrem mão da ortodoxia teológica, mas que são extremamente criativos e relevantes. O que você sugeriria aos muitos jovens implantadores de igreja que desejam ser ortodoxos em sua teologia e ainda assim terem ministérios relevantes?
[Augustus] Há exemplos de ministérios assim que podem servir de inspiração, como Mark Driscoll e outros neo-calvinistas nos Estados Unidos. Não estou dizendo que a receita do sucesso de Driscoll funcionaria também no Brasil. Aborreço esse tipo de estratégia de importação de modelos. Mas me refiro ao fato que eles mostram que é possível, sim, ser conservador e interessante, ter um compromisso com a antiga Palavra de Deus e ainda falar à nova geração. Os jovens calvinistas brasileiros deveriam por um lado se apegar à Palavra de Deus, estudá-la, se aperfeiçoar em pregá-la de maneira eficaz, e por outro adaptar-se à realidade brasileira, de maneira a construir pontes através das quais venham a se comunicar de maneira significativa com nossa geração. Um conselho que eu daria aos jovens calvinistas brasileiros é que façam a diferença entre aquelas doutrinas que são fundamentais e básicas nas Escrituras, e que se constituem no cerne da Reforma, e que rejeitem as idiossincrasias de alguns grupos de puritanos no passado, que têm sido confundidas com calvinismo no Brasil, como só cantar os salmos metrificados sem instrumentos musicais, a proibição das mulheres lerem a Bíblia e orarem nas igrejas, etc.

[TC] Ainda dentro da idéia de conselhos para jovens. Se o senhor tivesse que aconselhar um jovem que se sente chamado para o ministério, como você o aconselharia a se preparar para o ministério, e o que ele deveria evitar nesta preparação?
[Augustus] Iria depender do tipo de chamado. Se ele deseja ser um missionário, plantador de igrejas, desbravador, eu o orientaria a se preparar numa escola apropriada. Mas, antes verificaria o que a Igreja dele, seus líderes espirituais, sua família, pensam sobre o chamado dele. Às vezes um jovem se sente chamado, mas as pessoas ao seu redor não percebem a menor vocação nele. Eu desencorajaria um jovem que não tenha um mínimo de suporte de sua igreja e família para ser missionário. Verificaria também se ele já mostrou na prática que tem os dons necessários: já levou pessoas a Cristo? É um líder em sua igreja? Costuma falar de sua fé com as pessoas? No caso de um jovem que deseja ser pastor, eu seguiria o mesmo procedimento. É preciso ter em mente que os seminários e escolas missionárias não fazem pastores e plantadores de igreja – apenas lhes dão as ferramentas para aplicarem os dons e capacidades já anteriormente dadas por Deus. Na preparação, eu sugeriria que eles evitassem ler apenas autores liberais, neo-ortodoxos que as vezes os professores passam como leitura obrigatória em teologia. Que eles leiam também autores conservadores. O liberalismo teológico tem matado e sufocado a fé de muitos jovens que ingressam nos seminários com desejos intensos de servir à Deus no campo missionário. Não se trata de mandar ao campo jovens ingênuos e não forjados no fogo da discussão acadêmica – mas é que nem isto existe em alguns seminários de denominações históricas brasileiras. Eles vão ler somente os livros dos antigos liberais alemães, de padres italianos, de teólogos da libertação latino-americanos e absolutamente nenhum acadêmico conservador.


Augustus e esposa Minka na Harley Davidson Dyna 1600
[TC] O senhor poderia falar um pouco sobre o seu envolvimento com os motoqueiros?
[Augustus] Ando de motocicleta desde que era jovem. É uma das minhas alegrias, estrada aberta, moto possante, enrolar o cabo e sentir o motorzão V-Twin de mil e seiscentas cilindradas da Harley Davidson Dyna subir rapidamente de giro com um torque tão grande que o estômago cola na espinha, hehehehe! Faço parte de um grupo informal de motociclistas na Universidade Presbiteriana Mackenzie, e saímos regularmente para passear um sábado ou outro. Há vários pastores e presbíteros neste grupo, bem como alguns professores e funcionários amigos. Praticamente vou todo dia para o Mackenzie de moto, andando no meio dos motoboys – muita adrenalina, mas muito prático, apesar dos riscos. Penso em um dia organizar um motoclube, junto com os demais amigos, que congregue motociclistas cristãos em São Paulo, para passeios que combinem o prazer de pilotar e também comunhão e crescimento espiritual.

[TC] Qual que será o maior desafio da igreja brasileira nesta nova década?
[Augustus] Sobreviver e manter a sua identidade de igreja evangélica firmada na Bíblia diante do crescimento assombroso das igrejas neo-pentecostais, da teologia da prosperidade, das igrejas emergentes e do recrudescimento do liberalismo teológico.

[TC] Os Estados Unidos experimentam hoje uma tentativa de união entre líderes reformados, com movimentos como Together 4 the Gospel (www.t4g.org) e The Gospel Coalition (www.tgc.org), o senhor como um dos líderes reformados de maior expressão em nosso país já pensou/tentou reunir líderes reformados de outras denominações em torno do objetivo comum de expandir a penetração do evangelho no Brasil?
[Augustus] Não. Mas, quem sabe, agora que o interesse pela Reforma tem crescido tanto em nosso país, tenhamos condições de ao menos reunir essa liderança informalmente para pensar no assunto.

http://www.tempodecolheita.com.br/blog/2011/03/02/234/


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