quarta-feira, 24 de setembro de 2014

0 O arrependimento é necessário para a salvação




Na Bíblia vemos inúmeros convites gerais ao arrependimento, tais como:
“O Espírito e a noiva dizem: Vem. Aquele que ouve diga: Vem. Aquele que tem sede, venha, e quem quiser receba de graça a água da vida” (Apocalipse 22.17)
“E dizendo: O tempo está cumprido, e é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no evangelho” (Marcos 1.15)
“Convertei-vos a mim e eu me converterei a vós” (Zacarias 1.3)
“Pois assim diz o Senhor à casa de Israel: Buscai-me, e vivei” (Amós 5.4)
“Buscai o bem, e não o mal, para que vivais; e assim o Senhor, o Deus dos Exércitos, estará convosco, como dizeis” (Amós 5.14)
“Buscai ao Senhor e a sua força; buscai a sua face continuamente” (1ª Crônicas 16.11)
Mas aquele que é provavelmente o texto mais preciso acerca disso e que proclama a universalidade do arrependimento é o texto de Atos 17.30, que diz:
“Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens, que todos, em toda a parte, se arrependam” (Atos 17.30)
Como Wesley observa, este texto diz respeito a “todo homem, em todo lugar, sem qualquer exceção, tanto ao lugar quanto à pessoa”[1]. Mas como “todos, em toda a parte”, se arrependerão se não lhes é dada sequer uma oportunidade de crer? Se eles já foram de antemão predestinados ao inferno, eles não poderão se arrepender de jeito nenhum, ou senão o decreto divino a respeito deles seria anulado. No calvinismo, quem Deus não elegeu arbitrariamente antes da fundação do mundo não pode se arrepender e crer. Ele não tem uma chance, nunca terá uma oportunidade real. Chamar todos ao arrependimento, incluindo os milhares de não-eleitos, é vão.
É difícil entender Tiago dizendo para que os pecadores: “limpem as mãos; e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração” (Tg 4.8), a não ser que ele pensasse que fosse realmente possível que o pecador limpasse suas mãos e purificasse seu coração.
Deus certa vez disse:
“Irei para meu lugar, até que ponham no coração e busquem minha face” (Oseias 5.15)
Qual a razão para Deus se afastar e só decidir voltar depois do arrependimento a não ser que este arrependimento fosse possível? Se ele não era, tudo não passou de um teatro aqui. Deus se afastou por causa de pecados que ele predeterminou que acontecessem, e não voltaria mais até que ele decretasse o arrependimento. Em outras palavras, Deus os abandona e volta para eles não em função de escolhas humanas, mas de decretos divinos.
Porém, a Bíblia sempre ensina que o arrependimento é possível para todos os pecadores. Deus disse:
“Não falei em segredo, nem em lugar algum escuro da terra; não disse à descendência de Jacó: Buscai-me em vão; eu sou o Senhor, que falo a justiça, e anuncio coisas retas” (Isaías 45.19)
O chamado de Deus, como ele mesmo diz, não é em vão. Seria absurda uma declaração dessas caso fosse impossível que muitas pessoas aceitassem este chamado, porque teoricamente já estariam predestinadas ao inferno. Este chamado seria obviamente “vão” para elas. Não valeria nada, da mesma forma que de nada adianta tentar falar aos ouvidos de um surdo, ou gesticular diante de um cego. Completamente vão.
Deus também disse:
“Este mandamento que hoje te prescrevo não é obscuro, nem posto ao longe, nem situado no céu, mas está junto de ti, em tua boca e em teu coração, para que o cumpras” (Deuteronômio 30.11-14)
A linguagem passa a ideia de que o cumprimento da vontade de Deus, que inclui o arrependimento para a salvação, não é algo distante, difícil de ser colocado em prática, muito menos impossível. É algo que meramente necessita de uma boca para falar e de um coração para crer. É um arrependimento perto e possível para todos, e não um arrependimento distante e impossível para muitos. Devemos mais uma vez lembrar que chamados como estes são gerais, incluindo aos que se perderam, como todo o contexto aponta. Deus não estava falando apenas com os “eleitos”, com uma pequena parcela dentre o povo, mas com todo o povo.
Infelizmente, Calvino mais uma vez se distanciou dos ensinamentos bíblicos neste ponto e tentou conciliar sua teologia com a Bíblia através de malabarismos lógicos que nada mais eram senão vãs tentativas de negar o óbvio. Ele chegou até mesmo a dizer que “por estas injunções, ‘se quiserdes’, ‘se ouvirdes’, o Senhor não nos atribui a livre capacidade de querer ou ouvir”[2], e que “mediante a pregação exterior, são todos chamados ao arrependimento e à fé, entretanto, nem a todos é dado o espírito de arrependimento e fé”[3].
Ele não compreendia que sua própria lógica tornava o chamado inútil e a impossibilitava a correspondência ao convite do arrependimento. Ele até mesmo negava que Deus deseja a salvação de todos, contrariando o óbvio ensinamento bíblico que permeia o Antigo (Ez.18:23; 18:32; 33:11) e o Novo (2Pe.3:9;1Tm.2:3,4) Testamento. Ele disse:
“Junto aos habitantes de Nínive e de Sodoma, segundo o testemunho de Cristo, a pregação do evangelho e os milagres teriam produzido mais fruto que na Judéia. Se Deus quer que todos venham a ser salvos, como acontece, pois, que aos míseros, que mais preparados estariam para receber a graça, ele não abra a porta do arrependimento?”[4]
Ele não apenas faz violência aos textos bíblicos que claramente dizem que Deus deseja a salvação de todos, como também faz adivinhação ao presumir que a oportunidade de arrependimento não existia para os habitantes de Nínive e Sodoma. A porta do arrependimento tanto se abriu para Nínive que muitos dali foram salvos com a pregação de Jonas (Jn.3:10), e a razão pela qual o mesmo não aconteceu com Sodoma foi pela desobediência dos próprios sodomitas, e não por negligência divina. Só porque o evangelho daria mais frutos em Nínive e Sodoma do que teve na Judeia não significa que os ninivitas e sodomitas não tiveram uma chance, significa apenas que os judeus rejeitaram a deles.
Por incrível que pareça, este absurdo calvinista desperta a fúria inclusive de outros calvinistas. Spurgeon, um dos mais famosos, se colocou fortemente contra Calvino nesta questão e negou veementemente que o Senhor não procurasse a salvação de alguém que não foi salvo. Ele disse:
“E com amor divino Ele o corteja como um pai corteja seu filho, estendendo Suas mãos e clamando: ‘Tornai-vos para mim, tornai-vos para mim’. ‘Não’, diz um doutrinário. ‘Deus nunca convida todos os homens a tornarem-se para Ele, mas somente alguns indivíduos’. Pare, senhor! Isto é tudo o que você sabe. Nunca leu sobre a parábola aonde é dito: ‘Meus bois e cevados já estão mortos, e tudo já está pronto; vinde às bodas’. E os que foram convidados não quiseram ir. E nunca leu que todos começaram a dar desculpas e foram punidos porque não aceitaram o convite? Então se os convites não são feitos para todos, mas somente para quem iria aceitá-lo, como esta parábola pode ser real?”[5]
Ele também rejeitava a tese de Calvino, na qual Deus não estende suas mãos a um não-eleito. Contra isso, ele escreveu:
“É provável que o Senhor continue estendendo Suas mãos até que seus cabelos fiquem grisalhos, ainda convidando-o continuamente – e talvez quando estiver beirando a morte Ele ainda dirá: ‘Vinde a mim, vinde a mim’. Se porém você ainda insistir em endurecer seu coração, se ainda rejeitar Jesus, eu imploro-lhe que não permita que nada o faça imaginar que continuará sem punição!”[6]
Spurgeon tanto sabia das consequências de suas declarações que naquele mesmo sermão afirmou que muitos ali iriam acusá-lo de ensinar o Arminianismo, mas preferia contradizer seu próprio sistema de crenças (calvinismo) do que contradizer a Bíblia. Logicamente, Armínio também rejeitou essa crença de Calvino, que impossibilita o arrependimento a um não-eleito. Ele disse que “isto imputa hipocrisia a Deus, como se, em Sua exortação à fé voltada para tais, Ele exige que estes creiam em Cristo, a quem, entretanto, Ele não propôs como Salvador deles”[7].
Ele também declarou:
“Eu gostaria que me explicassem como Deus pode, de fato, sinceramente desejar que alguém creia em Cristo, a quem Ele deseja que esteja apartado de Cristo, e a quem Ele decretou negar as ajudas necessárias à fé; pois isso não é desejar a conversão de ninguém”[8]
Wesley também exclamava dizendo que “não posso crer que haja uma alma na terra que não tenha, nem nunca tenha tido, a possibilidade de escapar da condenação eterna”[9]. Norman Geisler, embora se autodenomine “calvinista moderado”[10], é bem arminiano nesta questão. Ele diz que “seria tanto fraudulento quanto absurdo para Deus ordenar a todos que se arrependam, se não providenciou salvação para todos”[11]. Ele também defende vigorosamente que existe oportunidade de salvação para todos, dizendo:
“A oportunidade de se arrepender é um dom de Deus. Ele graciosamente concede-nos a oportunidade de voltar de nossos pecados, mas o arrependimento cabe a nós. Deus não irá se arrepender por nós. O arrependimento é um ato de nossa vontade, apoiado e encorajado pela graça”[12]
Contra a tese calvinista de que o “dever” se arrepender não implica em “poder” se arrepender, ele afirma[13]:
“O calvinista extremado crê que dever não implica poder. A responsabilidade não implica capacidade de responder. Mas, se é assim, por que deveria me sentir responsável? Por que deveria me preocupar quando seguir determinado caminho está fora de meu controle?”[14]
É também somente pela possibilidade de crer que um descrente pode ser justamente condenado por descrer, e apenas porque ele teve a possibilidade de se arrepender que ele pode ser acusado por sua rejeição ao arrependimento. O calvinismo, se levado às suas consequências lógicas, anula a justiça de Deus e a responsabilidade do homem. Mas há ainda um outro elemento importante que eles afogam no caráter divino para defenderem suas teorias. Iremos analisá-lo agora.
[1] WESLEY, John. Graça Livre, XI.
[2] Institutas,2.5.10.
[3] Institutas, 3.22.10.
[4] Institutas, 3.24.15.
[5] SPURGEON, Charles H, Sermão sobre: “A Soberana Graça de Deus e a Responsabilidade do Homem”.
[6] SPURGEON, Charles H, Sermão sobre: “A Soberana Graça de Deus e a Responsabilidade do Homem”.
[7] ARMINIUS, “Examination of Dr. Perkins’s Pamphlet on Predestination”, Works, v. 3, p. 313.
[8] ARMINIUS, “Examination of Dr. Perkins’s Pamphlet on Predestination”, Works, v. 3, p. 320.
[9] Wesley, John. The Works of The Reverend John Wesley, volume VII, New York, 1835, p. 480-481.
[10] Como já vimos no capítulo 1 deste livro, o “calvinismo moderado” de Geisler nada mais é senão um outro nome para o arminianismo clássico.
[11] GEISLER, Norman. Eleitos, mas Livres: uma perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o livre-arbítrio. Editora Vida: 2001, p. 237.
[12] GEISLER, Norman. Eleitos, mas Livres: uma perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o livre-arbítrio. Editora Vida: 2001, p. 219.
[13] Geisler também se opõe à costumeira resposta calvinista em torno do cumprimento da lei. Ele disse: “Os calvinistas extremados freqüentemente citam o mandamento de Deus de guardar a Lei como ilustração do ato de ordenar o impossível. Mas na verdade não é realmente impossível guardar a Lei, do contrário Jesus não teria sido capaz de guardá-la (v. Mt 5.17,18; Rm 8.1-4). Qualquer coisa que Deus ordene é possível fazer, seja com a própria força dada por Deus, seja com outra qualquer, dada por sua graça especial” (GEISLER, Norman. Eleitos, mas Livres: uma perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o livre-arbítrio. Editora Vida: 2001, p. 309).
[14] GEISLER, Norman. Eleitos, mas Livres: uma perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o livre-arbítrio. Editora Vida: 2001, p. 154.
Extraído do livro “Calvinismo X Arminianismo: quem está com a razão?”, cedido pela comunidade de arminianos do Facebook

http://www.cacp.org.br/o-arrependimento-e-necessario-para-a-salvacao/


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